Mas quem é o indignado?
Helena Matos, ensaísta, numa conferência informal (Brown Bag Lunch) no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, em Lisboa, pronunciou-se sobre a licitude dos indignados, com o exemplo, pouco noticiado, da manifestação pôs eleitoral em Espanha.
Perante uma eleição democrática de Mariano Rajoy um grupo de indignados (pelo menos uma centena) na Puerta del Sol mostrou o seu descontentamento, com cartazes abusivos, imagens trocistas, punhos levantados e bonecos a serem queimados que retratavam o novo primeiro-ministro do governo espanhol, ou seja uma manifestação cheia de ódio. Havia um grito de ordem: "Rajoy recuerda, tenemos una cuerda".
Este clamor, não é de todo inocente, recordar que existe uma corda, visto que a morte pela corda é o símbolo da pena de morte, é um atentado à Liberdade e aos Direitos Humanos, sobretudo a uma figura de Estado que foi democraticamente eleita pelo povo, e, sendo a Espanha um país que até há pouco tempo tinha vigente na sua Constituição a pena de morte.
Tanto na Europa continental, como nos países Ibéricos (Portugal em dimensões distintas da Espanha - Helena Matos desafiou, na ocasião, a um exercício sociológico: substituir os indignados da Puerta del Sol, tirando-lhes as rastas, as roupas largas, e trocando-os por cabelos rapados, casacos de cabedal e suásticas ao peito, mas mantendo o mesmo discurso de ódio, antiliberal e antidemocrático)  qual seria a reacção da comunicação social?
A comunicação social política é problemática uma vez que resguarda constantemente a esquerda, limitando sempre as criticas que lhes são feitas. Podendo ser uma espécie de fobia ideológica, talvez caracterizada pelo erro histórico muito presente em diversas esferas, de associar a esquerda à liberdade e à democracia de tal forma que a liberdade e a democracia sejam indissociáveis do próprio conceito da esquerda. 
Na realidade é notório que os políticos portugueses têm um enorme receio (não só nas campanhas) de se assumirem de direita. Ser de direita na praxis politica é sinónimo de ser reaccionário, conservador, etc., quando na Europa as grandes ditaduras que perduraram durante anos foram inspiradas no pensamento de esquerda, não só o comunismo, como o próprio nazismo têm origem no partido nacional- socialista.
Esta infantilidade ideológica, de dividir o mundo do pensamento politico maniqueisticamente: a direita mázinha e a esquerda boazinha, tem como consequência a anulação da discussão politica. Já não se encontra os políticos numa arena, a produzirem pensamento, com ideias novas, mas sobretudo a serem coerentes. Por vezes, em Portugal é muito difícil de distinguir um deputado socialista de um deputado social-democrata e vice-versa mesmo em assuntos estruturais. Como é também habitual ouvir-se na vox populi que os políticos são todos iguais, esta falta de confiança na política é fruto da nossa política insossa, sem o tempero da ideologia, da discussão, que têm sido paulatinamente substituídos pelo medo eleitoral, pelo medo de querer agradar a todos. Mas do que realmente precisamos é de políticos que se distinguem.
É neste panorama que se aclama o impacto dos indignados: numa moderada e constante aceitação do discurso da esquerda e da necessidade de políticos que se diferenciam pela coerência. A solução parece vir dos manifestantes, pois eles auto-intitulam-se, com o reforço da comunicação social, a voz activa da sociedade. Mas é um desacerto considerar os indignados a nossa voz activa. Por diversas razões:
Primeiro, esta é uma herança pesada do pensamento da revolucionário francês (ao menos não herdamos directamente a guilhotina), a ideia do imaginário da revolução, é preciso partir do zero, assim sendo, destruir para construir a sociedade perfeita, sem vícios, o novo mundo. Mas isto é uma utopia, ingénua, porque toda a sociedade parte de uma contextualização histórico-social e não passível de ser anulada. É a História, que está introduzida em todos os sectores, não só políticos como na arte, na economia, na literatura...
Na verdade são os indignados que têm as câmaras viradas para si, mas não representam as necessidades da comunidade, nem em termos de pensamento, nem em número. O grande exemplo está novamente em Espanha, neste verão durante o encontro do Papa Bento XVI com os Jovens, em Madrid, lá estavam eles os indignados (por vezes questiona-se se se indignam só por se indignarem ou se têm mesmo conhecimento total daquilo por que se indignam!), os manifestantes eram o número ínfimo em relação aos jovens que se tinham deslocado a Madrid para ouvir o Papa, o Jornal ABC descreveu-os como uma "gota", num enorme oceano. Indignaram-se contra um dos direitos mais íntimos do homem: o direito da Liberdade Religiosa, com o pretexto financeiro, quando na realidade a Jornada Mundial da Juventude injectou 354 milhões de Euros no mercado madrileno, ou seja até foi um investimento; indignaram-se contra a imagem do Papa quando a mensagem que trazia era de paz, amor, ecologia e esperança. Eram poucos mas desviaram as atenções da comunicação social, apoiados por alguns partidos de esquerda/extrema-esquerda os indignados destacaram-se pela violência, foi uma mensagem de ódio versus uma mensagem de paz.
A nossa geração futura não pode nem deve ser a indignada, mas sim a geração da sociedade civil (as famílias, a classe médias, as pequenas empresas...). A crise é uma oportunidade de procurarmos responder aos desafios, com mais criatividade. Esta nossa pesada herança francesa, a tendência do Estado paternalista e responsável e decisor... o Estado que deve educar, o Estado que define o número de filhos, o Estado que me dá emprego, o Estado que diz o que eu devo comer etc... , assim a sociedade civil não é estimulada a pensar na política e afasta-se das suas responsabilidades e das suas competências, não intervindo em decisões importantes da sua própria vida, da sua própria subsistência.
O Estado não vai resolver os nossos problemas, nem pode nem deve, nós precisamos de uma sociedade civil forte, atenta baseada em associações, instituições, na interajuda, nos conceitos de solidariedade e subsidiariedade. É notório na história que quando um regime autoritário se instala a sua prioridade inicial é acabar com as instituições, organizações e criar uma sociedade civil fraca, igualitária, fácil de dominar.
Por isso a solução para a crise, passa, sem dúvida, por uma sociedade civil forte, que não se indigne, mas que se digne.
Benedita Martins Machado
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