terça-feira, 5 de agosto de 2008

Isso não interessa nada II


Sinto-me bem mais aliviada desde que sua excelência Mário Soares se pronunciou acerca da intervenção do Presidente da República na passada quinta-feira.
Eis alguns pontos que retiveram a minha atenção:

1-De acordo com Mário Soares o momento escolhido por Cavaco Silva foi inoportuno pois os portugueses estavam a preparar-se para ir de férias e tal como refere ainda não estariam disponíveis para pensar nos problemas que assolam o país, sendo o regresso de férias, o momento escolhido, para aí sim, debruçarem-se sobre tão graves questões. Pessoalmente tenho sérias dúvidas quanto à preocupação dos portugueses, em férias ou não, mas isso é apenas uma simples opinião.
2-Citando Mário Soares: A questão que o Presidente levantou é de natureza político-constitucional e, na fase em que se encontra, cabe ao Parlamento agora pronunciar-se e não aos portugueses em geral. É por isso que vivemos em democracia representativa e num Estado de direito. A minha formação académica permite-me discordar das palavras de sua excelência, pois o facto de vivermos numa Democracia Representativa e num Estado de Direito, não implica a alienação, bem pelo contrário, dos cidadãos portugueses..apesar de ser essa a prática comum. Assim parece-me de louvar o facto de Cavaco Silva ter exercido os poderes que a Constituição da República Portuguesa legitimamente lhe confere, por forma a alertar os conscientes portugueses (note-se o tom irónico) para a ingerência nos princípios fundamentais consagrados na constituição da República Portuguesa. De facto isso não interessa nada pois, tal como escreve Mário Soares, os portugueses comuns estão preocupados - talvez mesmo angustiados - com outras questões, bem mais importantes, para eles, sejam continentais ou insulares: o custo de vida, a subir de forma exponencial; a crise energética e os seus efeitos nas bolsas de todos nós e nas empresas; a crise financeira, que afecta directamente todos os que têm acções na bolsa e, indirectamente, os que as não têm(...), pois claro!
3- Refere ainda que estando o processo legislativo na esfera de competências da Assembleia da República, caberia ao Presidente pronunciar-se quando lhe coubesse homologar ou não o estatuto. Volto a questionar-me se aquelas coisas que nos incutem desde pequenos sobre a prevenção fará algum sentido?..Talvez não.
4-Outro ponto que me faz confusão é o facto de o ex-presidente afirmar:(...) Daí a frustração que se seguiu à comunicação do Presidente, que a maioria não terá sequer compreendido. Acho que devemos clarificar algumas ideias, se os portugueses comuns estão preocupados com tão graves assuntos nacionais e internacionais, como poderão não ter por ventura percebido o conteúdo e o alcance da intervenção do Presidente da República? Tenho para mim que pudessem estar distraídos a contar os patinhos de borracha que iriam levar para o Algarve.

No I Fórum Açoriano Franklin D. Roosevelt no passado mês de Julho, onde tive a honra de estar presente, Mário Soares advertiu o jornalista Pedro Bicudo para o facto de não o tratar por presidente. O jornalista justificou-se dizendo que o tratava assim de acordo com o lema americano, uma vez presidente, sempre presidente (ou algo do género). Mário Soares respondeu em tom arrogante, que não nos encontravamos nos EUA. Devo confessar que concordo com o facto de não ser tratado por Presidente. Mas quem não quer ser lobo...

P.S- Sou uma portuguesa comum e preocupo-me com a separação de poderes :)

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