Por favor lê e diz-me se é outra x S. Miguel e a sua prepotência. N tenho pachorra para bairrismos mas tenho alguma curiosidade em saber o que querem agora com esta de uma Diocese em S. Miguel. Como sei que está por dentro deste assuntos, pf explica-me o q se passa pois nem me apetece ler o artigo até ao fim
obrigada "Sou a favor de uma diocese em São Miguel"
(primeira página do AO com grande destaque e fotografia)
A afirmação é do novo vigário episcopal, que representa o bispo em São Miguel, o padre Octávio Medeiros, numa entrevista em que diz haver mais "umbigo" do que "coração" na Igreja e onde revela um espírito livre de sociólogo
Na Igreja há mais "umbigo" do que "coração"
Padre Octávio Medeiros, 63 anos, novo vigário episcopal de São Miguel, a mais importante figura da Diocese na maior ilha dos Açores. É natural da Povoação, professor aposentado da Universidade dos Açores e ainda pároco de Água Retorta. É doutorado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Numa entrevista ao Açoriano Oriental, Octávio Medeiros fala abertamente sobre as suas posições no seio da Igreja Católica açoriana e, com o olhar de um sociólogo, analisa sem preconceitos a religiosidade actual. A sua nomeação para vigário episcopal foi sujeita a uma eleição com duas voltas. É difícil encontrar o perfil certo para este cargo? A segunda volta não foi uma segunda volta como ela é politicamente entendida. O senhor bispo fez uma primeira sondagem, de onde foram repescados os três nomes mais votados para uma segunda volta. Tratou-se de um procedimento. Uma volta poderia ter bastado, se o senhor bispo assim o entendesse. O cargo de vigário episcopal é muito importante para a Igreja Católica em São Miguel... A importância do cargo depende dos olhos com que é visto. Há quem pense que não é nada importante, há quem pense que é muito importante. Para mim, trata-se apenas de um serviço que vou prestar à igreja. Estou disposto a ir até onde Deus me der forças. Quais vão ser especificamente as suas funções? O vigário episcopal representa, oficialmente, o senhor bispo na ilha de São Miguel; coordena e anima a pastoral da ilha, quer através da presidência do conselho dos ouvidores, quer através da presidência do conselho pastoral. Além disso, o vigário episcopal tem também assento por direito próprio em algumas reuniões a nível diocesano. Este cargo já existiu no passado, depois foi extinto e agora recuperado. É um lugar que lembra sempre a famosa questão de haver ou não uma diocese em São Miguel. Se é quase impossível que a Diocese seja criada neste momento, o vigário episcopal é, por isso, essencial para dar maior visibilidade à ilha de São Miguel no seio da Diocese de Angra? Não é impossível criar uma nova diocese. O que se pode, na actualidade, é discutir sobre a necessidade pastoral da sua criação. É, então, a favor da criação de uma diocese em São Miguel?... Sempre fui, por uma questão pastoral e por uma questão sociológica, que não tem nada a ver com a divisão entre ilhas. Não falo sequer do peso da ilha de São Miguel, com 54% da população dos Açores... Mas a criação de uma nova diocese dependerá sempre da visão que a Igreja tem do seu território. Mesmo em São Miguel, há paróquias grandes, sobretudo em Ponta Delgada, e os padres não se mostram muito sensíveis ao seu desmembramento. Depois, há quem coloque a questão: para que serve uma paróquia se não há pároco? No entanto, a paróquia não é o pároco. Antes de ser criada, ela deve ser um lugar com alguma identidade e sentido de pertença. O pároco ajuda, mas não se pode pensar que é ele que faz a paróquia. Se fôssemos a pensar assim, no Nordeste, por exemplo, teríamos apenas duas paróquias, pois só há neste momento dois párocos. Isso não tem lógica, tal como a discussão desse problema numa lógica "umbilical", de vaidade ou de poder. A pastoral não se compadece com esses raciocínios e com estas motivações. Eu acho que, na Igreja, há mais "umbigo" do que "coração". E é preciso mudar esta mentalidade. Podemos esperar de si uma pastoral mais dinâmica em São Miguel? Eu sou um homem de esperança. Mas, convém desde logo dizer que a pastoral nesta ilha, felizmente, não é "terra queimada". Mas, para a animar, não posso depender apenas de mim. Mesmo com muita fé, muita esperança e boa-vontade, sozinho não faço nada. Existe dificuldade de articular no terreno as várias paróquias em São Miguel? É muito difícil... Quer isto dizer que cada paróquia é como uma ilha? Infelizmente, muitas paróquias são como ilhas, só que rodeadas de terra por todos os lados, em vez de mar. Temos de nos habituar a pescar para o mesmo cesto e nós, sacerdotes, devemos pensar que ninguém pesca para si e que a paróquia ou a Igreja não são nossas. Na Igreja, só temos de nos convencer que somos servos inúteis. Estabeleceu já algum objectivo que queira desenvolver durante os próximos três anos, enquanto vigário episcopal de São Miguel? Já escolhi um lema: tentar uma pastoral de presença, de "toalha à cintura". Não pretendo impor-me a ninguém e vou ter conversas com diversos sectores da Igreja em São Miguel: romeiros; secretário bíblico; reitor do Santuário da Esperança, o único da ilha e Caritas de São Miguel, não esquecendo, também, o património edificado. Vou procurar não ser uma "mão-cheia" de nada. Para isso, não valeria a pena existir o cargo. ||
"Há paróquias com dificuldades"
A Igreja, como não está separada da sociedade, também sofre da crise financeira, como ela. Esta é uma questão que divide inclusivamente os padres, com uns a defenderem que a Igreja não tem de se preocupar tanto com o dinheiro e outros a acharem que a Igreja não pode descurar as questões financeiras. Como é que está a situação financeira da Igreja Católica açoriana? O senhor Bispo tem tornado públicos os números da situação económica da Diocese. Acho que não se deve reduzir a pastoral ao dinheiro e não se deve também descurar o dinheiro, porque sem ele a acção pastoral torna-se mais difícil. As coisas estão ligadas: o dinheiro não é fundamental, mas é importante. Mas viver obcecado pelo dinheiro, por causa do dinheiro e com tudo a girar à volta do dinheiro, não. Essa divergência de que falava na sua pergunta quanto às questões financeiras, talvez esteja relacionada com questões históricas e com o tempo em que não se dava a devida atenção às contas da Igreja. Talvez algumas pessoas se tenham desmobilizado e hoje tenham uma tendência para o "não querer saber". Isso é lá com "eles". Há paróquias que não estão sensibilizadas para estas situações e isso é mau, porque a partilha deve ser sempre um indicador da nossa pertença, da nossa identidade e da nossa solidariedade cristã. Haverá hoje em dia paróquias "pobres" em São Miguel? Não tenho dúvidas disso e, nalguns casos, se não fossem os subsídios do Governo Regional, muitos dos nossos templos estariam "a cair aos bocados"... Ao nível de obras nos templos, temos sobrevivido muito com a ajuda do Governo, mas esse é um investimento que se justifica, pois trata-se de um investimento no património que é de todos nós. Há paróquias que têm muitas dificuldades em sobreviver economicamente. ||
"A Igreja não está nas suas melhores épocas"
É sociólogo e, como pessoa habituada a analisar realidades sociais, como é que analisa a Igreja actual, nas suas qualidades e nos seus defeitos? Não é muito fácil... Todas as mudanças sociais, económicas e políticas e todas as mudanças epocais, que acontecem de quando em vez, atingem a sociedade e atingem a Igreja. Quando se diz que a Igreja está em crise, estaremos apenas a falar da prática religiosa? A crise, porém, não se pode limitar ao enfraquecimento da prática religiosa. A crise é geral e começa na família, reflectindo-se, depois, na religião, na educação na economia, etc... Era quase humanamente impossível que a crise não se reflectisse também na vida religiosa. A pessoa humana é um todo inserido num contexto histórico, cultural e político e também num contexto religioso. A Igreja, de facto, não está nas suas melhores épocas... Se estivéssemos a falar de futebol, poderíamos dizer que estamos a viver uma época pouco feliz. Mas isso acontece porque a sociedade, no seu todo, também não está numa época feliz. Agora, o que o mundo espera dos cristãos é que, ao contrário de outros, que podem analisar a crise e resolvê-la nos aspectos histórico, económico ou sociológico, tenhamos a capacidade de abrir os olhos a todas essas realidades, sem esquecer aquele "foco" da palavra de Deus, que pode iluminar o cristão um pouco mais além. Mesmo apesar de toda a crise, Deus não está a dormir... Isso é que é importante para nós, cristãos, acreditarmos: Deus não dorme! Deus não está na praia a descansar enquanto nós estamos mergulhados na crise do petróleo ou dos bens alimentares. Em primeiro lugar, a Igreja tem de acreditar... Ter fé... Mas uma fé credível e operante. Se a própria Igreja não acreditar que Deus está presente e que o ser humano não é fruto do acaso, não vale a pena andarmos por aí a vender "banha da cobra"... Acha que a Igreja deveria ter uma presença mais política na sociedade numa situação de crise como esta em que vivemos. Ou seja, intervir menos ao nível na palavra e mais ao nível dos actos? A crise é geral e a Igreja não pode fechar os olhos, mas também é verdade que a Igreja não tem competência para analisar esta crise como o devem fazer os economistas ou os políticos. Uma coisa, porém, é certa: as crises são criadas pelos Homens e não devemos atribuir a Deus responsabilidades que são das pessoas. Um dos grandes problemas que afectam a Igreja Católica em todo o mundo e não apenas aqui nos Açores é o da redução do número de praticantes e até mesmo de crentes. Haverá alguma "receita" neste momento para inverter essa tendência? Receitas não as há, e ainda bem, porque senão começávamos todos a comprar e a vender receitas e o essencial talvez ficasse esquecido. Desde logo, gostaria de dizer que a prática religiosa não esgota a religiosidade da pessoa. A prática religiosa é apenas uma dimensão da religiosidade, mas não a esgota. Pode parecer um contra-senso, mas uma pessoa pode não praticar e não deixa, por isso, de ser religiosa. O que poderá estar a acontecer é que as celebrações religiosas talvez não estejam muito de acordo com os rituais da modernidade. Mas eu não vejo que seja fácil – e não sei se será desejável – uma adaptação pura e simples do ritual das missas aos rituais da modernidade, porque a missa não é como chegar a um supermercado e comprar um produto religioso deste ou daquele estilo. Pode-se dar um pouco mais de alegria às missas e até costumo dizer que a uma missa sem alegria, as pessoas preferem a alegria sem missa! Talvez possamos conciliar a celebração da missa com mais vida e mais alegria. No fundo, é uma questão de linguagem, que é algo que se coloca muito hoje em dia. Infelizmente, na Igreja, nem sempre estamos preparados tecnicamente para transmitir a palavra de Deus numa linguagem que seja acessível e/ou atractiva para as camadas mais jovens. || rui jorge cabral (AO)
3 comentários:
E para o oriente$$$$$$
Mundam-se os tempos.....
Sim... menos Valium por favor!!!!
Por favor lê e diz-me se é outra x S. Miguel e a sua prepotência. N tenho pachorra para bairrismos mas tenho alguma curiosidade em saber o que querem agora com esta de uma Diocese em S. Miguel. Como sei que está por dentro deste assuntos, pf explica-me o q se passa pois nem me apetece ler o artigo até ao fim
obrigada
"Sou a favor de uma diocese em São Miguel"
(primeira página do AO com grande destaque e fotografia)
A afirmação é do novo vigário episcopal, que representa o bispo em São Miguel, o padre Octávio Medeiros, numa entrevista em que diz haver mais "umbigo" do que "coração" na Igreja e onde revela um espírito livre de sociólogo
Na Igreja há mais "umbigo" do que "coração"
Padre Octávio Medeiros, 63 anos, novo vigário episcopal de São Miguel, a mais importante figura da Diocese na maior ilha dos Açores. É natural da Povoação, professor aposentado da Universidade dos Açores e ainda pároco de Água Retorta. É doutorado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Numa entrevista ao Açoriano Oriental, Octávio Medeiros fala abertamente sobre as suas posições no seio da Igreja Católica açoriana e, com o olhar de um sociólogo, analisa sem preconceitos a religiosidade actual.
A sua nomeação para vigário episcopal foi sujeita a uma eleição com duas voltas. É difícil encontrar o perfil certo para este cargo?
A segunda volta não foi uma segunda volta como ela é politicamente entendida. O senhor bispo fez uma primeira sondagem, de onde foram repescados os três nomes mais votados para uma segunda volta.
Tratou-se de um procedimento. Uma volta poderia ter bastado, se o senhor bispo assim o entendesse.
O cargo de vigário episcopal é muito importante para a Igreja Católica em São Miguel...
A importância do cargo depende dos olhos com que é visto. Há quem pense que não é nada importante, há quem pense que é muito importante.
Para mim, trata-se apenas de um serviço que vou prestar à igreja.
Estou disposto a ir até onde Deus me der forças.
Quais vão ser especificamente as suas funções?
O vigário episcopal representa, oficialmente, o senhor bispo na ilha de São Miguel; coordena e anima a pastoral da ilha, quer através da presidência do conselho dos ouvidores, quer através da presidência do conselho pastoral.
Além disso, o vigário episcopal tem também assento por direito próprio em algumas reuniões a nível diocesano.
Este cargo já existiu no passado, depois foi extinto e agora recuperado. É um lugar que lembra sempre a famosa questão de haver ou não uma diocese em São Miguel. Se é quase impossível que a Diocese seja criada neste momento, o vigário episcopal é, por isso, essencial para dar maior visibilidade à ilha de São Miguel no seio da Diocese de Angra?
Não é impossível criar uma nova diocese. O que se pode, na actualidade, é discutir sobre a necessidade pastoral da sua criação.
É, então, a favor da criação de uma diocese em São Miguel?...
Sempre fui, por uma questão pastoral e por uma questão sociológica, que não tem nada a ver com a divisão entre ilhas. Não falo sequer do peso da ilha de São Miguel, com 54% da população dos Açores...
Mas a criação de uma nova diocese dependerá sempre da visão que a Igreja tem do seu território.
Mesmo em São Miguel, há paróquias grandes, sobretudo em Ponta Delgada, e os padres não se mostram muito sensíveis ao seu desmembramento.
Depois, há quem coloque a questão: para que serve uma paróquia se não há pároco? No entanto, a paróquia não é o pároco. Antes de ser criada, ela deve ser um lugar com alguma identidade e sentido de pertença.
O pároco ajuda, mas não se pode pensar que é ele que faz a paróquia.
Se fôssemos a pensar assim, no Nordeste, por exemplo, teríamos apenas duas paróquias, pois só há neste momento dois párocos.
Isso não tem lógica, tal como a discussão desse problema numa lógica "umbilical", de vaidade ou de poder.
A pastoral não se compadece com esses raciocínios e com estas motivações. Eu acho que, na Igreja, há mais "umbigo" do que "coração".
E é preciso mudar esta mentalidade.
Podemos esperar de si uma pastoral mais dinâmica em São Miguel?
Eu sou um homem de esperança. Mas, convém desde logo dizer que a pastoral nesta ilha, felizmente, não é "terra queimada". Mas, para a animar, não posso depender apenas de mim. Mesmo com muita fé, muita esperança e boa-vontade, sozinho não faço nada.
Existe dificuldade de articular no terreno as várias paróquias em São Miguel?
É muito difícil...
Quer isto dizer que cada paróquia é como uma ilha?
Infelizmente, muitas paróquias são como ilhas, só que rodeadas de terra por todos os lados, em vez de mar. Temos de nos habituar a pescar para o mesmo cesto e nós, sacerdotes, devemos pensar que ninguém pesca para si e que a paróquia ou a Igreja não são nossas. Na Igreja, só temos de nos convencer que somos servos inúteis.
Estabeleceu já algum objectivo que queira desenvolver durante os próximos três anos, enquanto vigário episcopal de São Miguel?
Já escolhi um lema: tentar uma pastoral de presença, de "toalha à cintura".
Não pretendo impor-me a ninguém e vou ter conversas com diversos sectores da Igreja em São Miguel: romeiros; secretário bíblico; reitor do Santuário da Esperança, o único da ilha e Caritas de São Miguel, não esquecendo, também, o património edificado. Vou procurar não ser uma "mão-cheia" de nada.
Para isso, não valeria a pena existir o cargo. ||
"Há paróquias com dificuldades"
A Igreja, como não está separada da sociedade, também sofre da crise financeira, como ela.
Esta é uma questão que divide inclusivamente os padres, com uns a defenderem que a Igreja não tem de se preocupar tanto com o dinheiro e outros a acharem que a Igreja não pode descurar as questões financeiras.
Como é que está a situação financeira da Igreja Católica açoriana?
O senhor Bispo tem tornado públicos os números da situação económica da Diocese.
Acho que não se deve reduzir a pastoral ao dinheiro e não se deve também descurar o dinheiro, porque sem ele a acção pastoral torna-se mais difícil.
As coisas estão ligadas: o dinheiro não é fundamental, mas é importante.
Mas viver obcecado pelo dinheiro, por causa do dinheiro e com tudo a girar à volta do dinheiro, não.
Essa divergência de que falava na sua pergunta quanto às questões financeiras, talvez esteja relacionada com questões históricas e com o tempo em que não se dava a devida atenção às contas da Igreja.
Talvez algumas pessoas se tenham desmobilizado e hoje tenham uma tendência para o "não querer saber". Isso é lá com "eles".
Há paróquias que não estão sensibilizadas para estas situações e isso é mau, porque a partilha deve ser sempre um indicador da nossa pertença, da nossa identidade e da nossa solidariedade cristã.
Haverá hoje em dia paróquias "pobres" em São Miguel?
Não tenho dúvidas disso e, nalguns casos, se não fossem os subsídios do Governo Regional, muitos dos nossos templos estariam "a cair aos bocados"...
Ao nível de obras nos templos, temos sobrevivido muito com a ajuda do Governo, mas esse é um investimento que se justifica, pois trata-se de um investimento no património que é de todos nós. Há paróquias que têm muitas dificuldades em sobreviver economicamente. ||
"A Igreja não está nas suas melhores épocas"
É sociólogo e, como pessoa habituada a analisar realidades sociais, como é que analisa a Igreja actual, nas suas qualidades e nos seus defeitos?
Não é muito fácil... Todas as mudanças sociais, económicas e políticas e todas as mudanças epocais, que acontecem de quando em vez, atingem a sociedade e atingem a Igreja.
Quando se diz que a Igreja está em crise, estaremos apenas a falar da prática religiosa?
A crise, porém, não se pode limitar ao enfraquecimento da prática religiosa.
A crise é geral e começa na família, reflectindo-se, depois, na religião, na educação na economia, etc... Era quase humanamente impossível que a crise não se reflectisse também na vida religiosa.
A pessoa humana é um todo inserido num contexto histórico, cultural e político e também num contexto religioso. A Igreja, de facto, não está nas suas melhores épocas... Se estivéssemos a falar de futebol, poderíamos dizer que estamos a viver uma época pouco feliz.
Mas isso acontece porque a sociedade, no seu todo, também não está numa época feliz. Agora, o que o mundo espera dos cristãos é que, ao contrário de outros, que podem analisar a crise e resolvê-la nos aspectos histórico, económico ou sociológico, tenhamos a capacidade de abrir os olhos a todas essas realidades, sem esquecer aquele "foco" da palavra de Deus, que pode iluminar o cristão um pouco mais além.
Mesmo apesar de toda a crise, Deus não está a dormir... Isso é que é importante para nós, cristãos, acreditarmos: Deus não dorme!
Deus não está na praia a descansar enquanto nós estamos mergulhados na crise do petróleo ou dos bens alimentares. Em primeiro lugar, a Igreja tem de acreditar... Ter fé... Mas uma fé credível e operante.
Se a própria Igreja não acreditar que Deus está presente e que o ser humano não é fruto do acaso, não vale a pena andarmos por aí a vender "banha da cobra"...
Acha que a Igreja deveria ter uma presença mais política na sociedade numa situação de crise como esta em que vivemos. Ou seja, intervir menos ao nível na palavra e mais ao nível dos actos?
A crise é geral e a Igreja não pode fechar os olhos, mas também é verdade que a Igreja não tem competência para analisar esta crise como o devem fazer os economistas ou os políticos.
Uma coisa, porém, é certa: as crises são criadas pelos Homens e não devemos atribuir a Deus responsabilidades que são das pessoas.
Um dos grandes problemas que afectam a Igreja Católica em todo o mundo e não apenas aqui nos Açores é o da redução do número de praticantes e até mesmo de crentes. Haverá alguma "receita" neste momento para inverter essa tendência?
Receitas não as há, e ainda bem, porque senão começávamos todos a comprar e a vender receitas e o essencial talvez ficasse esquecido.
Desde logo, gostaria de dizer que a prática religiosa não esgota a religiosidade da pessoa.
A prática religiosa é apenas uma dimensão da religiosidade, mas não a esgota. Pode parecer um contra-senso, mas uma pessoa pode não praticar e não deixa, por isso, de ser religiosa.
O que poderá estar a acontecer é que as celebrações religiosas talvez não estejam muito de acordo com os rituais da modernidade.
Mas eu não vejo que seja fácil – e não sei se será desejável – uma adaptação pura e simples do ritual das missas aos rituais da modernidade, porque a missa não é como chegar a um supermercado e comprar um produto religioso deste ou daquele estilo.
Pode-se dar um pouco mais de alegria às missas e até costumo dizer que a uma missa sem alegria, as pessoas preferem a alegria sem missa!
Talvez possamos conciliar a celebração da missa com mais vida e mais alegria.
No fundo, é uma questão de linguagem, que é algo que se coloca muito hoje em dia.
Infelizmente, na Igreja, nem sempre estamos preparados tecnicamente para transmitir a palavra de Deus numa linguagem que seja acessível e/ou atractiva para as camadas mais jovens. || rui jorge cabral
(AO)
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