segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Assim vai a credibilidade na democracia




"Diz o povo 'Quanto mais se fala, menos se acerta'. E é bem verdade! Também se diz, que alguém disse 'Um povo culto é ingovernável'. (...) e dizem-se muito mais coisas, coisas que não seria de esperar serem ditas porque quem as diz.
Ou o que se tem dito, proferido por essas mesmas pessoas, é dito para dizer ou para nos entreter; ou porque o que dizem, não o é com convicção, mas para nos convecerem ou ficarem convencidos que nos convenceram. Dito isto, pouco mais tenho a dizer. Prefiro ouvir quem sabe o que diz, que são tantos, e tão cultos, que tornaram o povo ingovernável. Feita a apresentação de quem sabe o que diz, pergunto-me, quem eles são?
Uns negam sondagens; outros invertem resultados; outros não viram, não viveram, mas afirmam com certeza do saber; outros há, que investem a fundo perdido; outros são pagos para dizer, e muitos outros, donos do conhecimento, dizem o que não deviam dizer, porque a plateia é culta e já ninguém compra àquele preço.
Então o que fazer?
Continuar a ouvir ou começar a dizer? E o que deve ser dito? Repetir o que tem sido dito ou lembrar o que já foi dito por quem sabia o que disse?
Bom, mas quem de facto são eles, os que hoje dizem? Estarão sufocados por algum trauma? Comprometidos com a inconsciência? Merecem-nos crédito? E porque dizem?
E nós, os ingovernáveis, que somos o povo culto, ainda não percebemos que nós, detentores da cultura, não precisamos de ouvir mais o que eles nos dizem? Então o que fazer?
Deixá-los dizer, mas de forma que o digam, o digam uns aos outros, porque nós que somos o povo, não sabemos quem eles são, e porque nós, o povo, um dia, quando soubermos a força que temos, começaremos a dizer e de certo os poremos a mexer.
Que saudade eu tenho de ouvir dizer a quem sabia dizer!"


por Paulo Gomes, in Crónicas Portuguesas, 2009.

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