sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Sr. Francisco Lemos

Açores-Ilha Terceira


O Sr. Francisco Godinho Lemos, antigo aguadeiro da freguesia dos Altares, nasceu na referida freguesia no dia 1 de Dezembro de 1922. Começou a exercer esta actividade aos 30 anos e reformou-se aos 60 anos de idade.
A conversa com o Sr. Francisco tem início quando ele começa a explicar como enveredou por esta profissão: “Eu nem pensava em ser aguadeiro, o presidente da junta é que um dia perguntou-me se eu tinha trabalho e se queria ser o novo aguadeiro da freguesia uma vez que o anterior já tinha muita idade, olha eu aceitei logo!” exclamou o Sr. Francisco. Este Sr. explica que nos primeiros anos teve muitas dificuldades em executar o seu trabalho porque não sabia nem lhe explicaram o trajecto da canalização: “Inquietei-me pa dar c’os canos”. Ao perguntar quanto ganhava ele refere logo: “Ah, isso então não era mau! Ganhava 300 escudos por mês”. Quando questionado sobre como eram as canalizações ele descreve-as da seguinte forma: “Eram canalizações feitas em barro, ligadas com cal hidráulica, ao fim de 20, 30 anos começavam a descolar”.
O Sr. Francisco relembra que as tarefas mais usuais eram o desentupir os canos com canas e mais tarde com vergas, segundo ele as raízes das plantas facilmente entupiam os canos; o controle do fluxo da água com as “Reduções” (tubos de ferro inseridos nas canalizações que devido a um reduzido diâmetro numa das suas extremidades permitiam controlar o fluxo) nos períodos de maior seca; o controle da correcta distribuição da água para as diferentes zonas da freguesia de forma a não faltar água a ninguém; e por fim o remendar e substituir dos canos danificados. Segundo este senhor havia muita disputa na freguesia pelo abastecimento de água: “Roubava-se a água, desviava-se a água!” explica.
Este antigo aguadeiro resume então as nascentes que tinha a seu cargo: “…a do Cerro, a do Pico da Cafua, as duas da Chamuscada, a do Terreiro de Dentro e a das Cales”. Como complemento da sua actividade de aguadeiro este Sr. vendia também produtos hortícolas do seu quintal, fazia galochas em cedro-do-mato, potes, selhas, pequenos barris e balseiros para as vindimas. A água da nascente da Ribeira dos Gatos hoje em dia é usada só para abastecimento de gado. O Sr. Francisco faz questão em dizer que gostava muito daquela profissão, e que procurava sempre fazer um bom trabalho.



Entrevista no âmbito de uma disciplina de Antropologia

2 comentários:

Dita disse...

Pessoas de antigamente, estes trabalhos são sempre interessantes!

Anónimo disse...

Neste momento, a FLA deve gostar imenso de ouvir falar de Nascentes e águas para consumo humano...