terça-feira, 4 de dezembro de 2007

oBRAS-pRIMAS 7 - "A Primavera"

Sandro Botticelli, foi o pintor mais notável da segunda metade do século XV, pertencente à Escola Florentina, início do Renascimento. Foi um homem culto e de grande temperamento artístico. Nasceu em Florença, aprendeu inicialmente ourivesaria, e também dedicou-se aos estudos literários. A maior parte da sua carreira esteve ligada às grandes famílias florentinas, especialmente aos Médicis, que o colocaram sob sua protecção e patronato. O relacionamento que teve com os Médicis possibilitou que tivesse condições para criar as suas obras-primas. Viveu apaixonadamente o aparecimento do Humanismo na corte de Lorenzo de Médici. No final da sua vida, influenciado pelas predicas de Savonarola, reformador religioso que propunha a austeridade, deixou de abordar temas mitológicos e profanos, e renuncia os elementos da perspectiva, voltando assim a uma pintura medieval. Botticelli desenvolve uma pintura narrativa. Trata com nova amplitude temas não só profanos, mas inclusive de mitologia pagã. Os seus personagens são sensuais, delicados, melancólicos. É um grande pintor da Virgem. Em contraposição às Virgens que eram pintadas nessa época, que expressam a beatitude e a contemplação de Deus, as de Botticelli apresentam um olhar de sonho e uma expressão melancólica, quase triste.






A Primavera é um quadro que utiliza a técnica de têmpera sobre madeira, combina um formato monumental (com figuras em tamanho natural) com uma técnica reminiscente da pintura de miniatura. Naquela época, quadros com dimensões grandes não era unusuais, especialmente nas residências de famílias poderosas. A sua datação é incerta, é consenso geral, que foi pintada em 1477 ou 1478, encomendada por Lorenzo di Pierfrancesco de Médici, primo de Lorenzo de Médici o Magnífico. Esta obra é altamente representativa da iconografia e da forma classicista, representando deuses mitológicos quase nús e de tamanho natural com um complexo simbolismo filosófico que requeriam um conhecimento profundo da literatura renascentista para poder interpretá-la. Embora a literatura da antiguidade clássica continuasse a ser uma fonte de inspiração temática, a sua influência formal tornou-se praticamente irrelevante.

Trata-se de uma obra de temática mitológica clássica que nos apresenta a alegoria da chegada dessa estação. O conteúdo codificado de A Primavera pode ser elucidado com a ajuda de um poema de Angelo Poliziano, que por seu turno inspirou-se em Ovídio. A interpretação clássica e mais generalizada é de Gaspary e Warburg (1888), descreve as figuras do seguinte modo, partindo da esquerda:



  • Mercúrio - É identificado por usar sandálias e capacete com asas e pelo caduceu, que é um pau usado para separar serpentes e criar Paz. O capacete e a espada conferem-lhe o perfil de ser o guardião do jardim de Vénus. Na representação ele está a esticar a mão que segura o caduceu de modo a dispersar a névoa; Veste um manto vermelho coberto com chamas, que cai de forma assimétrica, traço típico da Antiguidade, e era uma indicação de que se tratava de uma representação mitológica.



  • As três Graças - Seguidoras de Vénus, deusas da dança, estão representadas como três jovens, quase nuas cobertos por véus transparentes, com cabelos doirados e soltos. As Graças parecem ser retratos de pessoas existentes da época e conhecidas do pintor. A Graça da direita é Catarina Sforza, a do meio é Semiramide Appiani, mulher de Lorenzo il Popolano, também aqui representado como Mercúrio, que observa-o. A da Esquerda seria Simonetta Vespucci, protótipo de beleza Botticelliana. A hipótese mais acreditada referente às três jovens dançarinas, é que a da esquerda, de cabelos rebeldes, é a Voluptua, a central, de olhar melancólico e introvertido, é a Castidade, e a da direita, com um colar que sustêm um precioso pendente e um véu que cobre os cabelos, é a Beleza.



  • Vénus - Encontra-se no centro do quadro, e serve de eixo na composição. Ao redor da cabeça, arvoredo vai clareando, formando como uma espécie de aureola. Está representada com uma Nossa Senhora, com o cabelo coberto com véu e toca, como se tratasse de mulher casada. Apresenta-se com um vestido comprido e manto, que cai de forma assimétrica. O ventre proeminente era considerado gracioso, e um sinal de elegância era o modo de colocar a mão. Ela é o centro, não só físico, como também espiritual da obra, força criadora e coordenadora da Natureza, que faz nascer e crescer todos os seres vivos.

  • Cupido - Voa sobre a cabeça da figura central, Vénus a sua mãe, e de olhos vendados dedica-se a lançar uma flecha a uma das Graças. Na tradição clássica, Vénus e o Cupido surgem para avivar os campos, fustigados pelo inverno, iniciando a primavera ao semear flores, beleza e atracão entre todos os seres;

  • Flora - É a única figura do quadro que olha directamente para o observador, e parece que tenta espalhar a suas flores para fora da cena, cumprindo a sua função de adornar o mundo com flores. Destaca-se também pelo seu sorriso, pois não era muito frequente na pintura Renascentista, em particular de Botticelli, cujas as mulheres, estão sempre sérias e abstraídas;


  • A ninfa Cloris - Da sua boca saem as flores que Flora recolhe no seu vestido transparente. Botticelli a representa a sua metamorfose, quando se transformava em Flora.

  • Zéfiro - personificação do vento oeste, abraça a bela ninfa Cloris. É representado com cores frias, apesar de que sopra um doce brisa que possibilita a primavera.



Esta obra evidencia-se por contrastar com todo o desenvolvimento do pensamento artístico do século XV, através da perspectiva. Botticelli opta aqui por um formato monumental, com figuras de tamanho natural, com uma grande atenção ao detalhe. Apesar de alguma figuras serem inspiradas em esculturas antigas, estas não eram cópias directas sem estarem adaptadas à linguagem de Botticelli, que pressagiam o maneirismo do século XVI.

As personagens destacam-se do fundo pela claridade das suas peles e sua roupas, de cores claras e inclusivamente transparentes. A composição do arvoredo, é essencialmente laranjeiras, árvores tradicionalmente relacionadas com os Médici. No canto direito existem árvores prostradas pelo vento, que são Loureiros uma alusão ao nome de Lourenço. Todas as flores existentes fazem parte da flora Toscana

1 comentário:

Anónimo disse...

Engraçado hoje fiz uma frequencia em q vinha isto tudo....