"Em fevereiro de 2006, a conceituada revista americana ARTnews trouxe como matéria de capa o "Top Ten" das tendências que estavam ditando a produção artística contemporânea, entre elas a espiritualidade, o mockumentary (ou documentário fake), o maneirismo pós-moderno e o neo-psicodélico. Passados quase dois anos, a lista já deve estar bem diferente: por definição, listas de Top Ten precisam mudar, para fazer sentido. Como dizia um personagem do romance O Leopardo, de Tomasi di Lampedusa: "Se quisermos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude".
A aliança do sistema da arte com as grandes corporações é um casamento por interesse, é claro, sem amor verdadeiro. Tanto é assim que os artistas, que gostam de atitudes rebeldes, o escamoteiam, ou o justificam com certo constrangimento: ora, Michelangelo e Leonardo Da Vinci também precisavam de mecenas. O próprio museu foi criado para que o grande público aceitasse a arte promovida pelo mecenato privado. São argumentos simplórios, é claro, mas servem para confortar os menos exigentes. Eu, particularmente, ainda me sinto incomodado quando vejo a assinatura Picasso num carro (cujo design, aliás, nada tem a ver com Picasso).Fico mais incomodado ainda quando leio que a Absolut Vodka - que teve no mercado brasileiro a maior taxa de crescimento em termos mundiais (mais de 100% este ano) - encomendou a diversos artistas, começando por Nelson Leirner e Daniel Senise, garrafas da bebida em tiragens limitada (48 mil de cada artista, rapidamente esgotadas. Leio no site da Absolut que a garrafa de Leirner usa "uma linguagem onírica", imagens de singelas borboletas combinadas a uma profusão de cores, usando a técnica de stickers que o artista vem abraçando nos seus trabalhos mais recentes. Já a de Senise é inspirada pelas rochas de Copacabana, e tem "um tom mais irreverente e provocativo, com a imagem de um macaco no meio de estilhaços de madeira". "
"Segundo o site, «a parceria entre ABSOLUT, Nelson Leirner e Daniel Senise enfatiza a devoção mútua pela criatividade, elegância e arrojo. (...) Além de abraçar o conceito arte, o projecto traz também uma outra grande característica da marca, o collectible, o objecto do desejo colecionável pela legião de fãs de Absolut". A campanha da Absolut continuará com "novíssimos nomes da arte contemporânea brasileira, como "Nando Costa, Adhemas, Abiuro, Glauco Diogenes, Gui Borchert, Marconi, Nitrocorpz, Colletivo, Rubens Lp e mooz»."
"A estratégia de comunicação da Absolut começou em 1985, com o projeto Absolut Warhol (naturalmente: Andy Warhol foi o profeta da arte como business); no ano seguinte foi a vez de Keith Haring, e hoje já são mais de 400 os artistas(mas também designers, estilistas como Versace e Gaultier etc: para o mercado, é tudo a mesma coisa) que alugaram seus nomes para campanhas da empresa - incluindo, é claro, o rebelde Damien Hirst. Coroando a iniciativa, em 2003 a Absolut se tornou a primeira marca a ser convidada como expositora oficial da Bienal de Veneza. Dois anos antes, o Guggenheim de Nova York tinha aberigado uma mega-exposição sobre... Giorgio Armani, que coincidentemente doara 15 milhões de dólares ao museu."
in Luciano Trigo. "Vodka e arte"
Máquina de escrever
2 comentários:
e também há 1 pu no Prncipe real que se chama VODKA...
queria dizer Pub e não PU, embora seja um nome giro...
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