sexta-feira, 29 de julho de 2011

Jaime Nogueira Pinto sobre a sua mulher


Texto lido no enterro da Maria José Nogueira Pinto pelo seu marido
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Não vos vou falar mais da Zézinha. Porque todos a conheceram e já muitos falaram dela nestes dias. E bem. Eu, aqui, vou falar-vos da Zézinha e de nós – de mim, dos meus filhos e da nossa família - nestes cinco últimos meses desde que soubemos da doença dela, num Sábado 12 de Fevereiro, faz hoje precisamente cinco meses.
Conheço bem as narrativas de aceitação cristã e resignada das provações que Deus manda – deste o Livro de Job às histórias dos mártires e perseguidos de todos os tempos. Mas nunca tinha assistido, e vivido, de perto, e também na pele, essa experiência. Nesse dia no Hospital da Luz a Zézinha foi informada quase ao mesmo tempo que nós do que tinha e quais eram as perspectivas; e percebeu perfeitamente que tinha uma sentença de morte a curto prazo em cima da cabeça.Jantámos nessa noite com os nossos filhos e começámos, conscientes, uma longa e dolorosa noite das Oliveiras. Às quatro da manhã, vi que ela não estava no quarto e fui procura-la. Estava na casa de jantar, a fumar um cigarro.Perguntou-me se queria também um chá, que ia fazer para ela. E assim ficámos até às seis, a beberricar um chá e a falar da nossa vida. Da nossa vida que tinha sido uma vida boa, mas que não tivera nada a ver com uma boa vida. Tinha sido uma vida difícil, muito rica de riscos e afectos, de grandes amizades e algumas desilusões. E ela agradeceu – e eu com ela – a Deus que nos tinha dado essa vida, e os nossos filhos, e os nossos netos, e toda a família. E os nossos amigos. Todos vós.Depois foi o princípio desta caminhada que acabou na semana passada: ela estava resignada mas, por nós – por mim e pelos filhos - aceitou lutar, com fé em Deus e respeito pelas ciências e artes dos homens. E partimos para Nova Iorque, e depois para Madrid. E tivemos essa longa espera das consultas, dos exames, das análises, dos relatórios, das esperanças alimentadas e perdidas, das histórias dos amigos próximos solidários que vêm com uma casuística de receitas e curas. Partilhamos isto tudo com ela, mas ela – sendo a vítima – foi sempre a mais corajosa e a mais desprendida de todos nós.Ela rezava as suas devoções antes de dormir e eu muitas vezes rezei com ela. Nunca nessas longas semanas pediu a cura; pedia que se fizesse a vontade de Deus. Aceitava pedir pequenas coisas: para ter apetite; para não ter náuseas depois da quimioterapia; para ter ossos e cabeça no dia seguinte, para cumprir as suas obrigações profissionais – e ir ao Parlamento, ir à Renascença, ir ao debate da SIC, aguentar a campanha eleitoral, escrever o artigo para o DN.
E estar presente com a sua extrema atenção como mulher, como mãe, como avó, como dona de casa, nas grandes e pequenas tarefas, nas rotinas todas.
Ela que era a pessoa mais modesta do mundo e gastava metade do que ganhava nas suas “caridades”. Tinha a sua economia pensada e articuladas para a velhice. Com a doença e os tratamentos dizia, solta, a rir e a sorrir - “se duro muito, gasto o que tenho com a doença e depois vais tu ter que me sustentar.”Vivi isto tudo com os nossos filhos – o Eduardo, a Catarina, a Teresinha - e também com a Helena, o Martim e o Tiago. E com as minhas cunhadas Maria João e Sumsum, e com a minha sogra, Maria José.
Mais que todos com a Teresinha porque estava na linha da frente, estávamos os dois com a Zézinha em casa e, talvez por isso fomos os que alimentámos mais esperanças.
A Teresinha e eu, nesta linha da frente, tínhamos que ser mais esperançosos que os outros. Vigiávamo-nos e ajudávamo-nos, atentos a quando o outro ia a cair. Como dois Cireneus, mas quem levava a Cruz era a Zézinha.Escolheu – ela escolheu e nós seguimo-la – viver habitualmente esta tragédia. Nós às vezes revoltávamo-nos e pensávamos que Deus estava a escrever por linhas tortas, muito tortas. Sentíamo-nos na sua cela da morte, e pedíamos – nós – graça e clemência. Mas ela continuou a aceitar com simplicidade, com modéstia, com aquele seu sorriso que era a coisa mais luminosa do mundo, quase a pedir desculpa por estar doente, por nos preocupar, por nos mudar a vida.Uma ou duas vezes houve episódios positivos, animadores, que quase a perturbaram. A resignação é comovente, mas a esperança – sobretudo nos resignados - ainda é mais. Nela, a esperança guardou-a para outras coisas. Em nós houve sempre esperança quase até ao fim. Acreditamos num Deus que faz milagres, que ressuscita mortos, porque não havia de curar enfermos.
Desta vez não curou. Há dez dias, mais ou menos, tudo se precipitou, vieram as más notícias do TAC de avaliação; já nos tínhamos apercebido que tudo estava pior, pois ela perdia mais e mais forças, os olhos perdiam o brilho, a vida ia desaparecendo. E só essa sua coragem e vontade de espírito a mantinham de pé.Conhecia-a há mais de quarenta anos, no dia 12 de Março de 1970. Íamos fazer quarenta anos de casados no próximo mês de Janeiro e ela faria 60 anos em 23 de Março.
A vida a dois é uma vida difícil, mas conseguimos chegar juntos até que a morte, nos separou. Foi uma longa vida em que estivemos juntos em tudo o que de importante, bom ou mau, nos aconteceu – ou ao nosso país, ou à nossa família.
Mas estes quase cinco meses finais na sua dor e esperança, mais que uma descida para um abismo – que também foram – transformaram-se numa escalada para além da dor, uma subida de um calvário muito particular. Um calvário de alguém que pela fé, pela entrega aos outros, pelo amor aos mais fracos, pela caridade evangélica, acabou por seguir como sempre aspirava, o caminho de Cristo.
Sempre sem medo, nem da doença, nem da dor, nem do fim, porque ela acreditava que esse Cristo, esse Senhor era o seu pastor, e que por isso nada lhe faltaria ao atravessar o vale das trevas. Não faltou. Falta-nos ela a nós.

a minha companhia do verão


Mais umas barbatanas!

Diário das minhas aulas de condução: Dia III

Quinta-feira dia 28 de Julho de 2011
Angra do Heroísmo
Meus queridos amigos, o terceiro dia é cansativo, acho que conduzir deve emagrecer pela força concentrada no músculo coracobraquial (para quem não sabe tem bom remédio: wikipédia).
Mas o problema, exposto aqui em tom de conselho é: não vão para uma festarola de freguesia, tipo verbena da vila de São Sebastião até ás tantas quando tem aula de condução no outro dia às 8h da manhã! Pois bem, na 4f à noite dei por mim metida num carro a ir para São Sebastião (outro lado da ilha), para a festa da vila, digamos uma discoteca improvisada ao ar livre onde só os homens é que pagam, e tem um problema grave, a musica que é tão, mas tão má que doí nos ouvidos isto é mesmo verdade, não é um eufemismo eu ouvi sons que não sabia que existiam! Se Beethoven disse, Musik höhere Offenbarung ist als alle Weisheit und Philosophie (A música é uma revelação superior a toda a sabedoria e filosofia) devo dizer que na noite de 4ªfeira reparei que existe revelações mais bregas que qualquer livro do Peter Singer.
Sim não ouvi o despertador tocar, vesti a roupa que estava à mão e nem tomei o pequeno almoço, mas claro, que tinha os meus Ray Ban essencial para uma manhã posterior de uma festa
Balanço final: correu bem, consegui estacionar, estar mais atenta e perceber que isto custa!
Será que o senhor Júlio não se vai importar se eu levar um cd dos Rolling Stones, duarante as aulas?

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Diário das minhas aulas de condução: Dia II

Quarta-feira dia 27 de Julho de 2011
Angra do Heroísmo
Hoje acordei mesmo cedo, realmente é possível acordar cedo nas férias de verão! Ás 7h15 lá tocou a musica I'm Yours de Jason Mraz do meu telemóvel, ou melhor do antigo telemóvel da minha mãe que me está emprestado visto que eu perdi o meu, como é um telemóvel muito rodado cá em casa para além de estar com as teclas coladas a fita-cola, tem imensas musicas, consoante o estilo do mutável proprietário! Assim sendo, nada melhor que no verão acordar com uma musica fresca (ainda estava indecisa sobre a opção da musica a cavalgada das valquírias de Wagner).
Depois de tomar o pequeno almoço, lá estava o senhor Júlio à minha espera, a cantar Amália o famoso tema: tudo isto existe, tudo isto é fado! Desta vez para além da pagela ao beato Papa João Paulo II, também rezei um acto de contrição (olha que dá muito jeito nestas situações). Eram 8h da manhã, e há gente na rua às 8h da manhã em pelo Julho! Na verdade mal sabia que este ia ser um grande dia, o dia que eu ia dar a minha primeira apitadela e atenção apitei a uma senhora de São Mateus que ia completamente para cima de mim, ela respondeu palavras feias deu para ler nos lábios, será o inicio de muitos palavrões?
Foi também o dia que eu levei à letra o "estar à vontade" e cometi a infracção de excesso de velocidade a 80km na recta da achada! Foi o dia que passei 4 vezes pela rua da Sé, foi o dia que dei valor ao acto de atravessar dentro das passadeiras, das passadeiras meus senhores!
Fui até São Mateus, à Via Rápida, consegui recuar e fazer inversão de marcha, apesar do quase trocicolo e já conduzo com óculos de sol, é bom para o estilo! Enquanto isso ouvi as histórias familiares do senhor Júlio, pois tinha perguntado se ele tinha filhos, e isso foi o inicio de 20 e tal anos de conversa e de um antigo casamento, na qual contou-me a sua vida, e digamos que falou até sobre a sua morte pois andou a construir o seu jazigo, não quer ser enterrado por causa dos ratos!
Por fim, quando estacionei o carro à frente da minha casa, pensei gosto mesmo disto...talvez um dia me vejam no Spa-Francorchamps!!!

Eis a pergunta...


O exame de código da estrada é um exame à língua portuguesa, rasteiras e conjugações verbais, ou um exame ao conhecimento da normas de transito?

Diário das minhas aulas de condução: Dia I

Terça-feira dia 26 de Julho de 2011
Angra do Heroísmo
Na 2f o senhor Manuel, homem com muita pinta andou na guerra de Angola e tem a palavra Amor escrito na mão direita, dono da minha escola de condução ligou-me com a feliz noticia que a minha licença, finalmente, estava pronta e que desta forma já podia começar as aulas de condução apesar de ainda não ter o código. Fiquei mesmo contente, devo dizer que a minha vontade de conduzir era maior que o medo.
3f acordei cedo, fui à Missa de manhã a única Missa que é celebrada de manhã em toda a cidade, na Igreja da Sé a minha mãe foi lá ter no final, convidou-me para me oferecer um grande pequeno almoço, numa pastelaria que gosto muito, sumo de laranja natural, meia de leite, folhado de queijo e fiambre, ainda li o jornal , mas depois como não queria deixar o senhor Júlio, o meu instrutor, à espera, lá fui.
Até ao local combinado rezei uma pagela ao Beato Papa João Paulo II, cheguei com pontualidade, lá estava o Volkawagen verde aquele verde incomparável, já o tinha visto passar na rua da Sé. Entrei no carro e apresentei-me ao senhor Júlio, um homem bem mais velho que o meu pai e um pouco mais novo que o meu avô, fiquei a conhece-lo bem, pois não se cala, fala do seu trabalho, da sua vida etc.. é de São Jorge, mas considera-se mais terceirence pois está nesta ilha à mais de 40 anos, só que o sotaque não engana, é jorgense, está inquieto para se reformar e só trabalha de manhã porque à tarde, com o sol, faz muito calor (onde é que eu já ouvi isto?)!
Antes de começar a guiar achei por bem pelo dia, declarar patronos da minha condução os pais da Nossa Senhora, São Joaquim e Sant' Ana, na verdade até é apropriado, na minha casa os país e os avós ficam sempre preocupados com os transportes dos filhos e dos netos. Isto tudo vinha-me à cabeça enquanto o senhor Júlio falava, falava e falava.
Comecei a conduzir, à frente do meu antigo liceu, Escola Padre Jerónimo Emiliano de Andrade, logo de inicio troquei o travão com o acelerador, caso para dizer bela cena, não sei se dos nervos ou da minha dislexia, onde fica a esquerda e a direita? mas como nada é por acaso, não havia carros à frente.
As minhas mãos pareciam que estavam coladas ao volante, mas depois lá consegui deslizar com o Volkswagen verde piroso, dei uma volta até ao Porto Judeu, Ribeirinha, e se via um camião em sentido contrário entrava numa espécie de pânico controlado, dei tanto valor a quem conduz! Mas como diz um desses santos fundadores modernos: que é preciso é de ser audazes.
No final, com um litro de agua entre as minhas costas e o assento, parei o carro no mesmo lugar de onde tinha partido, enquanto o senhor Júlio falava, claro, mas quando tirei a chave do carro o senhor Júlio exclama em tom de conclusão:
-Seja pelas alminhas!
eu respondi-lhe do:
-Purgatório. Até amanhã ás 8h da manhã!

Porque hoje é o dia dos avós

8 de Dezembro de 1958

terça-feira, 26 de julho de 2011

Relembrando Diogo Vasconcelos

A criação desta Secretaria de Estado [do Empreendedorismo Competitividade e da Inovação] no seio do Ministério da Economia tem um importante significado político, num País que tende a privilegiar o que existe e a desconfiar do que é novo. Para criar um novo dinamismo económico, Portugal tem de facilitar o acesso a financiamento a novas iniciativas empresariais, criar um ambiente atractivo para capital de risco, levar os bancos a financiar novamente as PME e insistir que uma fatia muito maior do orçamento de compras públicas portuguesas seja alocada a novas empresas inovadoras, como se faz há décadas nos EUA (de que resulta a criação de 2,000 novos produtos/ano).Portugal só pode criar um novo modelo económico se a sociedade valorizar a função empreendedora como vital. Isso implica uma política económica, assente no apoio à emergência e expansão de jovens empresas inovadoras e de elevado crescimento. Estas empresas são consideradas motor de crescimento que pode levar a mudanças estruturais na economia. São marcantes nas economias emergentes e são uma das razões do seu sucesso, particularmente nos sectores mais intensivos em conhecimento. A emergência de novas empresas inovadoras de crescimento rápido é fundamental na transição para sectores mais intensivos em conhecimento e sinal de dinamismo da actividade empresarial. Em última instância, só a emergência de uma vaga deste tipo de empresas permitirá vislumbrar que algo de verdadeiramente novo e estrutural se passa na economia portuguesa.O financiamento de novos projectos e empresas, assim como o seu desenvolvimento e internacionalização, é deveras limitado em Portugal. A par da limitação na oferta de capital de risco e da indisponibilidade dos mercados de capitais, prevalecem as práticas de concessão de crédito com base em critérios fundamentalmente de solidez patrimonial, o que necessariamente circunscreve o universo das empresas inovadoras com capacidade de mobilização de recursos financeiros adequados às suas necessidades de crescimento. Apesar de tudo, considerando o reduzido montante de investimento requerido para o arranque das empresas e para a fase inicial de desenvolvimento da tecnologia, o recurso a programas de incentivos suportados em fundos comunitários, e nalguns casos ao capital de risco, têm permitido uma dinâmica empresarial interessante junto das principais instituições do sistema científico e tecnológico. No entanto, os condicionalismos financeiros acabam por se revelar absolutamente fatais quando se trata de elevar a escala dos investimentos. A reserva manifestada pelos operadores de capital de risco, sustentada na ausência de um número significativo de projectos inovadores que tenham alcançado grande valorização, a reduzida dimensão das carteiras e a falta de especialização sectorial, torna fundamental criar um quadro que favoreça lógicas de co-investimento com venture capitalists e corporate investors internacionais em empresas tecnológicas portuguesas, pelos efeitos que tal induz em termos de acesso a novos mercados, melhoria de gestão, atracção de talento e reputação”.

Madrid es Joven

Ai tal tristeza, com tanto mar neste país! A que ponto nós chegamos

Com 800 quilómetros de costa, Portugal tem agora uma praia bem longe dela em Mangualde (Publico), é uma piscina de água salgada e até tem areia.

Porque hoje é dia 25 de Julho: dia São Tiago

domingo, 24 de julho de 2011

A ler o Berto Messias

Por vezes quando leio os jornais, Diário Insular e a União, leio o Berto Messias, presidente da JS-Açores, e costumo rir, porque acho que ninguém o avisou que o partido que esteve no culminar da crise entre 2005 a 2011 ou seja o 16º e 17º governo constitucional português, aquele meteu o pais na banca rota, ou melhor literalmente no "lixo" foi o seu partido, o PS! E se a Troika está cá é porque alguém durante muitos anos, ou pelo menos durante 7 anos, não fez o que era da sua competência.
Gostava de saber antes de Berto Messias decidir mudar de partido, estas mudanças ideológicas tipo André Bradford, também escrevia assim?

O que é? Não gostas de festas? Eu cá então gosto*


Lembram-se quando o nosso antigo presidente da Câmara respondeu esta perola * da politica açoriana quando foi enfrentado pelo Carlos Costa Neves sobre o dinheiro que se gastava nas festas da cidade? Pois então não há que perder tempo, cá estão elas, as Sanjoaninas 2012, já têm página no facebook!

Amy Winehouse 1983-2011

Close your eyes and I'll kiss you
Tomorrow I'll miss you
Remember I'll always be true
And then while I'm away
I'll write home everyday
And I'll send all my loving to you

I'll pretend that I'm kissing
The lips I am missing
And hope that my dreams will come true

And then while I'm away
I'll write home everyday
And I'll send all my loving to you

Amy Winehouse 1983-2011

Morreu Amy Winehouse, uma das cantoras da minha geração que mais gostava. Era simplesmente um pouco mais velha do que eu, com uma voz fabulosa, fica a musica e o exemplo dos limites da liberdade.

Festas do Império da rua de baixo de São Pedro 2011

As festas do Império da rua de baixo de São Pedro, para além de serem 20 dias, para além da actuação da Edna Pimenta, do Miguel e André, para além de terem mais de 100 coroas ao Divino Espírito Santo, tiveram hoje pelo menos 10 minutos de fogo de artificio, toma lá oh Rui Rio!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Eles andam ai


Outro dia, a Google celebrou a descoberta da genética, com um logótipo em honra de Mendel. O que me fez lembrar que Mendel era um monge, católico Angostiniano na Abadia de São Tomé em Brno e mesmo assim uma grande cientista.
Gosto tanto disto, quando a fé e a razão aparecem tão juntinhas!
Peço desculpa ao portal ateu, principalmente aos senhores da redacção da secção "cientifica" e da secção "a religião é um atraso" mas, na verdade foi um monge, católico, que descobriu a genética e a sua teoria foi essencial para a síntese evolutiva moderna.
Normalmente não se costuma falar dos cientistas catolicos, não fica bem, mas eles são muitos e andam ai.

Coisas boas da vida:


Um mergulho ao fim do dia ( de preferência na Silveira)!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Sou católico, mas....

Há poucas coisas tão más como o mais que famoso "cá para mim"!
Outro bom artigo do Padre Gonçalo, chama-se " Os "Católicos" adversativos e é In memoriam de Maria José Nogueira Pinto, uma católica não adversativa.
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A barca de Pedro é como a arca de Noé. Se esta providencial embarcação incluía toda a espécie de criaturas que havia à face da terra, também a Igreja congrega uma imensa variedade de almas. Todas as gentes, qualquer que seja a sua raça, a sua cultura, a sua língua ou os seus costumes, desde que legítimos, cabe na barca de Pedro. Por isso, graças a Deus, há católicos conservadores e progressistas, de direita e de esquerda, republicanos e monárquicos, regionalistas e centralistas, etc.
Se, em política, tudo o que parece é, o mesmo já não se pode dizer na Igreja. Tal é o caso dos ‘católicos’ adversativos. Muito embora a designação seja original, a realidade é, infelizmente, do mais prosaico e corrente:
- Eu sou católico, mas...
E, claro, a seguir a esta proposição adversativa, seguem não poucos reparos à doutrina cristã. A saber: eu sou católico, mas creio na reencarnação; eu sou católico, mas defendo o aborto; eu sou católico mas, não acredito no inferno; eu sou católico, mas sou a favor da eutanásia; eu sou católico, mas concordo com o casamento entre pessoas do mesmo sexo; etc., etc., etc.
É verdade que a Igreja acolhe também aqueles que, por desconhecimento ou por debilidade, não conseguem ainda viver de acordo com todos os seus preceitos. Ao contrário do que pretendiam os cátaros, a Igreja não é só dos puros ou dos santos, os únicos que são, de facto, cem por cento católicos. Com efeito, a Igreja não exclui os néscios, nem os fracos que, na realidade, somos quase todos nós. Mas não aceita os nossos erros, nem os nossos pecados, antes impõe que, da parte do crente, haja uma firme decisão de conversão.
Esta é, afinal, a diferença entre o pecador e o fariseu: ambos pecam, mas enquanto aquele reconhece-o humildemente e procura emendar-se, este justifica-se e, em vez de mudar de conduta, desautoriza a doutrina em que, afinal, não crê. O pecador que é sincero no seu propósito de santificação, tem lugar na comunidade dos crentes, mas não quem intencionalmente nega os princípios da fé cristã.
Na comunidade cristã há certamente margem para a diversidade de pontos de vista, também em matérias doutrinais opináveis, mas não cabe divergência no que respeita aos princípios fundamentais. Um cristão que, consciente e voluntariamente, dissente de uma proposição de fé definida pela competente autoridade da Igreja, não é simplesmente um católico diferente ou divergente, mas um fiel infiel, ou seja, um não fiel.
Conta-se que o pai de uma rapariga algo leviana, sabendo do seu estado interessante, tentou desesperadamente conseguir-lhe um marido que estivesse pelos ajustes. Para este efeito, assim tentou aliciar um possível candidato:
- É verdade que a minha filha está grávida, mas é só um bocadinho...
Ser ou não ser, eis a questão. Pode-se ser católico sendo ignorante e até muito pecador, mas não se pode ser ‘católico’ adversativo, ou seja, negando convictamente a doutrina da Igreja.
A fé não se afere por uma auto-declaração abstracta, mas pela opção existencial de seguir Cristo, crendo e agindo de acordo com os princípios do Evangelho. Não é católico quem afirma que o é, mas quem pensa e quer viver como tal. «Tu crês que há um só Deus? Fazes bem, no entanto também os demónios crêem e tremem. O homem é justificado pelas obras e não apenas pela fé. Assim como o corpo sem alma está morto, assim também a fé sem obras está morta» (Tg 2, 19.24.26)

Cinema

Ontem quando fui alugar um filme (ler em baixo) reparei que a sociedade tem um problema tão grave como a falta de valores, o problema da falta de bom gosto!

The Concert


Um filme para quem gosta de rir, ou melhor para quem sabe rir, fala de musica, Judeus, Comunistas, Russos e sobretudo de Tchaikovsky! Vale a pena!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

terça-feira, 19 de julho de 2011

Quem manda na minha roupa sou eu; e a moda; e a sociedade; e as t-shirts do Che Guevara; e a UCP


Tenho pena de não estar na minha Universidade quando estas coisas acontecem! Saiu a notícia, mais que comentada, sobre o decreto do reitor da Universidade Católica Portuguesa, um regulamento acerca da forma de vestir. Esta notícia choca muitos meninos que vão de chinelos e fato de banho para a faculdade. Realmente a maior tristeza desta situação é ter que ser um reitor da universidade a ensinar a vestir as pessoas de acordo com a circunstância, há coisas que se devia aprender em casa, chegar ao ponto de terem que ser reguladas é uma demonstração como vai a educação do nosso país.
Meus colegas, uma coisa é estar na praia outra é no local de trabalho outra é num casamento e outra num churrasco, saber vestir-se de acordo com a circunstância não diminui a vossa personalidade, vocês não deixam de ser quem são, e esses sentimentos de repressão são hormonas da juventude, guardem-nas para criticarem o FMI.
Saber vestir de acordo com a situação é um desafio para as universidades e digo-vos, também para a Igreja, mas é sobretudo um desafio para as famílias.
É verdade, podem-me chamar antiquada, mas por exemplo, eu sou do tempo em que no domingo se vestia a melhor roupa, isso até tinha a sua piada, de certa forma fazia parte da cultura porque vivia-se aquele dia de forma diferente, com mais cuidado e ajudava a tornar o dia especial. Na verdade nunca deixei de ser uma criança reprimida, mesmo quando usava os vestidos que odiava e a roupa boa nunca foi impedimento de me sujar toda porque tinha decidido brincar na relva.
Demonstra-se muito respeito com o vestuário, ainda me lembro da minha mãe contar que o seu avô, o meu bisavô Aires Tavares da Silva mudava de roupa, para melhor, para ir simplesmente jantar na sua casa, todos os dias.
Tal como é ridículo alguém na praia de fato e gravata, é igualmente de fato banho dentro de uma sala de aulas, e isso demonstra não só uma falta de respeito como um desinteresse, meninos estamos na universidade, o ciclo já acabou.

Hoje era a única aluna na minha aula de código....

.....havia tourada à corda no Porto Judeu!

Um pouco de sentimentalismo moderno e estúpido

Ontem quando fui trabalhar na Quinta, vi melancias e melões tão pequeninos, tão queridinhos e tão fofinhos que decidi deixar de comer vegetais, a partir de agora é só raios solares!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

coisas boas da vida:


Queijadas da Graciosa fresquinhas

Esta gente só quer festas e mais nada

As festas ao Divino Espírito Santo do Império mais próximo da minha rua, a rua do meio de São Pedro, que como toda a gente sabe uma rua pequena, tão pequena que é quase uma canada, tem duração de 20 dias, começaram dia 10 e vão acabar no dia 30 de Julho. Atenção isto são 20 dias sem parar, com concertos, bodo leite, coroação do Espírito Santo e muitas rifas, as pessoas dançam, a rua iluminada, colchas nas varandas. É o verão na Terceira.

É que isto é realmente bonito:

«Hoc tibi et tuis privilegium: in hoc moriens salvabitur».
As palavras de Nossa Senhora a São Simom Stock em 1251

Se não tiver nada para fazer na silly season:


Pode ver aqui qual é o seu tipo de nariz (clica) senão faça como eu e vá tentar tirar a carta!

Porque ontem foi o dia 16 de Julho: Pessoas que usam o escapulário

Quem usar o Escapulário e ser devoto a ele, obtém vários privilégios, tais como:
(1) Protecção e intercessão especiais da Virgem Maria em todos os momentos da vida, da morte e mais além;
(2) A saída do Purgatório o quanto antes possível para quem morrer devotamente com ele;
(3) várias indulgências plenárias e parciais.
Ut indulgentiae:
Ganha-se indulgências parciais quem usar piedosamente o escapulário. Pode-se ganhar não só por beijá-lo, mas também por qualquer outro ato de efeito e devoção. Recebe-se também indulgências plenárias nos seguintes dias listados:
No dia que se impõe o escapulário e que é por isso inscrito na Ordem Terceira do Carmo.
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E nas seguintes festas:
Nossa Senhora do Carmo (16 de Julho);
São Simão Stock (16 de Maio);
Elias, o Profeta (20 de Julho);
Santa Teresa de Ávila (15 de Outubro),
Santa Terezinha do Menino Jesus (1 de outubro);
São João da Cruz (14 de Dezembro);
Todos os Santos Carmelitas (14 de Novembro).

Por isso se ainda não tem, não perca tempo e fale com um sacerdote porque é só vantagens!

Porque ontem foi o dia 16 de Julho: Nossa Senhora do Carmo


Se o terço é uma arma para um católico, o escapulário é a sua armadura. Ontem é um dia de grande festa, o dia da Nossa Senhora do Carmo, ainda por cima sendo sábado penso que o purgatório ficou vazio.

sábado, 16 de julho de 2011

Tenho saudades do meu telémovel




O que me resta de consolo quando perco o telemóvel é pensar com aquele material todo, há uma probabilidade de conversão de quem o encontrou!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Coisas boas da vida:


Pipocas caseiras a acompanhar a série do Sherlock Holmes

Histórias e Morais: Gonçalo Portocarrero de Almada

«(…) Para que serve este livro:
Para pôr na estante, pois fica em princípio bem em qualquer casa e, mesmo que não sirva para mais nada, a sua leitura poderá sempre servir de muito salutar penitência.
Para oferecer: é um bom presente para um amigo especial (o seu caso, se o livro lhe foi oferecido!) ou para um inimigo de estimação, pois não é qualquer inimigo que recebe uma prenda destas.
(…)
Informação importante sobre alguns ingredientes do livro.
Q.b. de doutrina católica, apostólica, romana, segundo as directrizes do magistério da Igreja, mas cabendo ao autor toda a responsabilidade pelas posições assumidas.
Contém produtos genuinamente sobrenaturais – como a fé, a esperança e a caridade – com certificação de origem. (…)»
in A Abrir: Instruções para o uso deste livro

Amanhã: São Miguel


Não o Anjo, mas a Ilha

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Nada me faltará!



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Acho que descobri a política - como amor da cidade e do seu bem - em casa. Nasci numa família com convicções políticas, com sentido do amor e do serviço de Deus e da Pátria. O meu Avô, Eduardo Pinto da Cunha, adolescente, foi combatente monárquico e depois emigrado, com a família, por causa disso. O meu Pai, Luís, era um patriota que adorava a África portuguesa e aí passava as férias a visitar os filiados do LAG. A minha Mãe, Maria José, lia-nos a mim e às minhas irmãs a Mensagem de Pessoa, quando eu tinha sete anos. A minha Tia e madrinha, a Tia Mimi, quando a guerra de África começou, ofereceu-se para acompanhar pelos sítios mais recônditos de Angola, em teco-tecos, os jornalistas estrangeiros. Aprendi, desde cedo, o dever de não ignorar o que via, ouvia e lia.

Aos dezassete anos, no primeiro ano da Faculdade, furei uma greve associativa. Fi-lo mais por rebeldia contra uma ordem imposta arbitrariamente (mesmo que alternativa) que por qualquer outra coisa. Foi por isso que conheci o Jaime e mudámos as nossas vidas, ficando sempre juntos. Fizemos desde então uma família, com os nossos filhos - o Eduardo, a Catarina, a Teresinha - e com os filhos deles. Há quase quarenta anos.

Procurei, procurámos, sempre viver de acordo com os princípios que tinham a ver com valores ditos tradicionais - Deus e a Pátria -, mas também com a justiça e com a solidariedade em que sempre acreditei e acredito. Tenho tentado deles dar testemunho na vida política e no serviço público. Sem transigências, sem abdicações, sem meter no bolso ideias e convicções.

Convicções que partem de uma fé profunda no amor de Cristo, que sempre nos diz - como repetiu João Paulo II - "não tenhais medo". Graças a Deus nunca tive medo. Nem das fugas, nem dos exílios, nem da perseguição, nem da incerteza. Nem da vida, nem na morte. Suportei as rodas baixas da fortuna, partilhei a humilhação da diáspora dos portugueses de África, conheci o exílio no Brasil e em Espanha. Aprendi a levar a pátria na sola dos sapatos.

Como no salmo, o Senhor foi sempre o meu pastor e por isso nada me faltou -mesmo quando faltava tudo.

Regressada a Portugal, concluí o meu curso e iniciei uma actividade profissional em que procurei sempre servir o Estado e a comunidade com lealdade e com coerência.

Gostei de trabalhar no serviço público, quer em funções de aconselhamento ou assessoria quer como responsável de grandes organizações. Procurei fazer o melhor pelas instituições e pelos que nelas trabalhavam, cuidando dos que por elas eram assistidos. Nunca critérios do sectarismo político moveram ou influenciaram os meus juízos na escolha de colaboradores ou na sua avaliação.

Combatendo ideias e políticas que considerei erradas ou nocivas para o bem comum, sempre respeitei, como pessoas, os seus defensores por convicção, os meus adversários.

A política activa, partidária, também foi importante para mim. Vivi--a com racionalidade, mas também com emoção e até com paixão. Tentei subordiná-la a valores e crenças superiores. E seguir regras éticas também nos meios. Fui deputada, líder parlamentar e vereadora por Lisboa pelo CDS-PP, e depois eleita por duas vezes deputada independente nas listas do PSD.

Também aqui servi o melhor que soube e pude. Bati- -me por causas cívicas, umas vitoriosas, outras derrotadas, desde a defesa da unidade do país contra regionalismos centrífugos, até à defesa da vida e dos mais fracos entre os fracos. Foi em nome deles e das causas em que acredito que, além do combate político directo na representação popular, intervim com regularidade na televisão, rádio, jornais, como aqui no DN.

Nas fraquezas e limites da condição humana, tentei travar esse bom combate de que fala o apóstolo Paulo. E guardei a Fé.

Tem sido bom viver estes tempos felizes e difíceis, porque uma vida boa não é uma boa vida. Estou agora num combate mais pessoal, contra um inimigo subtil, silencioso, traiçoeiro. Neste combate conto com a ciência dos homens e com a graça de Deus, Pai de nós todos, para não ter medo. E também com a família e com os amigos. Esperando o pior, mas confiando no melhor.

Seja qual for o desfecho, como o Senhor é meu pastor, nada me faltará.

Maria José Nogueira Pinto (1952-2011)


Quando uma pessoa morre normalmente existe uma tendência para surgir elogios, mas na verdade é impossível ficar-se indiferente a Maria José Nogueira Pinto, um mulher determinada, cheia de convicções, fazia politica com estilo e sem medo, até apreciava o seu tom de voz quando sabia que tinha razão, era firme como as ideias. A maneira como defendeu a vida na esfera politica e como não se deixou corromper. Uma mulher de fé, agora nota-se fazes-nos falta.
Por acaso tive a sorte de um dia ter jantado ao seu lado, e tal como é na politica era na vida privada, transparente, com bom humor e muito inteligente.
Acho se pudesse voltar a falar com ela agradecia-lhe o seu grande exemplo de mulher e de politica, que me fez acreditar na politica portuguesa, nos políticos e em Portugal, acreditar que ainda vale a pena lutar no parlamento pelo fim do aborto, e que os valores da vida humana não são anacrónicos e isso é o essencial da politica, a felicidade do homem.

Coisas boas da vida:

Massa Sovada com um copo de leite!

terça-feira, 5 de julho de 2011

A Espera de gado

Na minha rua, rua de São Pedro em Angra do Heroísmo no dia do padroeiro da cidade, São João, realiza-se a mítica tourada que é mais uma largada de touros, mas touros bravos à sério. A Espera de gado, é uma tourada histórica até por causa dos antepassados donos da minha casa, o capitão da cidade. A verdade é que esta tourada tem muita fama é a mais importante tourada de rua das festas sanjoaninas, apesar de eu não ser muito conhecedora da festa brava, esta tourada faz mesmo parte da minha vida, na minha infância, tenho grandes recordações, a casa cheia uma festa enorme, comida tradicional, o jardim enfeitado, as varandas bonitas com flores e com colchas, a imagem de São João ao lado da coroa do Divino Espírito Santo, na sala principal. São aquelas memorias que Vitorino Nemésio tanto escreve.
Este filme é um apanhado na praça do cimo da rua, o Alto das Covas. As touradas à corda tal como a espera de gado tem imensos turistas e imensos americanos da Base das Lajes, acontece o que se já tornou comum é que por causa das máquinas fotográficas, de filmar e por causa do zoom estes turistas levam sempre fortes marradas, até porque muitas vezes tentam imitar os terceirences a desafiar o touro e a desafiar o copo. Mas na verdade é que muitos estrangeiros já morreram nestas touradas e houve mesmo uma altura que a base das Lajes decretou que era proibido os americanos frequentarem esta tradição.
Aqui está um desses momentos, simplesmente hilariante, tomam a atenção dos comentários das pessoas.

Porque ontem foi dia 4th of July


Temos muito que agradecer aos EUA, principalmente os chocolates!

domingo, 3 de julho de 2011

Tratado sobre a liberdade:

Depois de se legalizar o improvável, não há problema em ter rebuscadas concepções da liberdade:
"A partir do momento em que há casamentos gay porque razão não pode haver pessoas que pensem a favor da independência?" Alberto João Jardim

Vamos desistir da Vida???

Pedro Vaz Patto, escreve sobre a legitimidade da luta pro-vida, na questão do aborto:

IRREVERSÍVEL, PORQUÊ?

Voz da Verdade, 2011-07-03
Quase por acaso, a eventual alteração da lei que entre nós liberalizou o aborto foi abordada na recente campanha eleitoral. A uma hipotética e remota possibilidade de alteração dessa lei foi dada uma veemente resposta por muitos políticos: «podem tirar o cavalinho da chuva»; «a sociedade não volta para traz»; seria «um retrocesso civilizacional». Se os partidários da liberalização não pararam enquanto não convocaram um segundo referendo depois da derrota no primeiro, igual direito não é reconhecido aos adversários dessa liberalização quanto à eventual convocação de um terceiro referendo. Parece, assim, que estamos no domínio do intocável e do irreversível.

Esta ideia de uma inexorável lei histórica choca, porém, com os princípios que regem as democracias e as sociedades abertas, onde, como também foi a propósito salientado, temas como este não podem ser “tabu”. «O futuro está aberto» - salientava Karl Popper quando contrapunha esses princípios à visão marxista de uma história fechada e pré-determinada.

E essa suposta irreversibilidade também não é confirmada pela história recente. A Polónia tem hoje, e na sequência da queda do regime comunista, uma legislação que restringe acentuadamente o aborto, com reflexos efectivos na sua prática, depois de ter conhecido uma experiência de verdadeira banalização. A opinião pública dos Estados Unidos – confirmam-no os mais recentes estudos – aceita cada vez menos o status quo da liberalização do aborto - de que esse país foi pioneiro desde o longínquo ano de 1973 - e a tendência pró-vida é aí hoje quase maioritária. Por estes dias, discute-se na Rússia uma alteração legislativa, com motivações de ordem ética e demográfica, tendente à restrição do aborto (designadamente o fim do seu financiamento público), cuja prática chega actualmente aos 74 por cada 100 nascimentos.

Quanto ao “retrocesso civilizacional”, uma ideia não deixa de me vir à mente.

No Império Romano, os primeiros cristãos distinguiam-se do comum das pessoas por não aderirem a uma prática então generalizada: a morte ou abandono de crianças recém-nascidas e não desejadas. Assim o afirma a célebre Carta a Dioneto, que traça um retrato desse grupo. Ilustres filósofos gregos e latinos aceitaram essa prática sem remorsos. Se hoje ela nos choca, devemo-lo às raízes judaico-cristãs da nossa cultura. Na tutela da vida, em especial das crianças, dos deficientes, dos mais débeis e indefesos, identificamos um sinal de autêntico progresso civilizacional. Progressos civilizacionais, encontramo-los no cada vez menos frequente recurso à pena de morte, ou à guerra como forma de resolução dos conflitos. É a cada vez mais acentuada tutela da vida humana que pode representar um progresso civilizacional. Não certamente o contrário.

Assistimos hoje, porém, ao requestionar da ilicitude moral do infanticídio. Influentes filósofos como Peter Singer e Michael Tooley defendem a licitude dessa prática. A razão fundamental tem a ver com a “desumanização” da criança recém-nascida a partir de argumentos que também serviram para “desumanizar” o feto e assim legitimar o aborto; se o feto não é pessoa, também não o é a criança recém-nascida; se o feto deficiente não tem direito à vida, também não o terá a criança recém-nascida com uma deficiência que só então possa ser detectada. Afinal, o que distingue substancialmente um ser humano pouco antes ou pouco depois de nascer?

Não será certamente este um “progresso civilizacional”. Regressamos a visões pré-cristãs que se pensariam superadas, além do mais porque também contrárias a qualquer visão humanista.

Para muitos, e por isto mesmo, a liberalização do aborto nunca poderá ser vista como “progresso civilizacional”. Têm, pelo menos, o direito de ser ouvidos e considerados, e não marginalizados como “ultra-conservadores “ ou “ultra minoritários”.