Na sequência de Rembrandt, não poderia deixar de publicar a minha obra preferida deste pintor. Como seria de esperar, este pintor foi tão arrojado, que pintou uma série muito grande de auto-retratos, como se alguém naquela época estaria interessado em comprar um retrato de uma outra pessoa que não estivesse relacionada com a mesma. Normalmente os burgueses encomendavam para ornamentar as paredes das suas casas, quadros que retratassem o dono da casa, a dona da casa, os filhos, os criados, as roupas, os objectos de uso, os móveis, os animais de estimação, até a comida - como se a imagem pudesse perpetuá-los e preservar para sempre os seus haveres.
Em relação a este auto-retrato, pintado no ano da sua morte é uma imagem de passividade, resignação e cepticismo. A exibição fanfarrona de adereços e simulação artística deram lugar a um modo de vestir mais humilde e caseiro. O trabalho do pincel parece deliberadamente tosco e pesado, criando um efeito de relevo; a imagem envelhecida de Rembrandt parece desintegrar-se na nossa vista. A cor propriamente dita tem um efeito estabilizador. Podemos ver então, um
homem que, aos 63 anos, carrega todas as mortes dos que lhe foram queridos. Um contraste - tão grande quanto o foi a genialidade do artista - com o Rembrandt que retratou na juventude, nos tempos em que posava para si próprio como se fosse um herói.
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