domingo, 25 de novembro de 2007

oBRAS-pRIMAS 6 - "Retrato de Casamento"


Jan van Eyck (1390-14419, é considerado o mais célebre dos pintores primitivos flamengos. Foi um pintor igualmente caracterizado pelo naturalismo, imperando na sua obra meticulosos pormenores e vivas cores, além de uma extrema precisão nas texturas e na busca por novos sistemas de representação da tridimensionalidade, ou seja, a perspectiva. Van Eyck, porém, não recorria com tanta frequência à perspectiva, pintando, desta feita, a madeira em que concebia os seus quadros de branco, o que concedia à pintura um excepcional brilho e um ligeiro efeito de profundidade. A ressequida madeira era também polida, o artista era muito inovador e até um pouco atrevido. Este costumava conceder profundidade e diversas sombras, mesmo nas zonas onde mais incidia a luz. Tal facto, pode ser considerado como uma iniciação ao realismo
Considerado como o fundador da escola realista flamenga, coube a Jan van Eyck aperfeiçoar a recém-criada técnica da pintura a óleo, em algumas das suas telas patenteiam uma técnica que o artista criou, de secagem rápida da tinta a óleo.


O Retrato de Casamento é a sua obra mais notável. Van Eyck pintou este retrato nupcial de Giovanni Arnolfini, um próspero mercador e sua esposa Giovanna Cenami, estabelecidos na cidade de Bruges. É evidente que o pintor assistiu à celebração do casamento, celebrado em segredo, já que uma inscrição na parede do fundo entre o espelho e o candelabro reza: "Jan van Eyck esteve aqui em 1434".


O casal se apresenta de pé, em sua alcova; o esposo bendiz a sua mulher, que lhe oferece sua mão direita, enquanto apoia a esquerda em seu ventre. A pose das personagens resulta uma aparência teatral e cerimoniosa, praticamente hierática; alguns especialistas vêem nessas atitudes fleumáticas certa comicidade, ainda que a referida interpretação que se vê no retrato, a representação de um casamento, atribui a isso alguma pompa.
O espelho convexo, emoldurado por pequenos medalhões que ilustram cenas da paixão, reflecte as duas figuras principais de costas e duas figuras masculinas mais pequenas de frente - uma forma engenhosa de transpor para a pintura a visão da sala pelo espectador, e a imagem do próprio artista.



A composição obedece a um esquema simétrico, em que o eixo central é sublinhado pelo candelabro, pelo espelho, pelas mãos enlaçadas do casal e pelo cão em primeiro plano. A profundidade espacial resulta não tanto das linhas de fuga, como também, da forma como figuras e objectos se sobrepõem. Esta obra, é considerada muito inovadora para a época em que foi concebida, exibe diversos conceitos novos relativamente às perspectivas e à acentuação dos segundos planos.
De modo surpreendente, aos rostos das duas figuras, trajadas ao estilo contemporâneo, falta individualidade associada à arte do retrato. Em contraste, pormenores mais insignificantes dimanam uma forte "personalidade": o candelabro tremeluzente em que arde apenas uma vela nupcial, por exemplo, para além do espelho, das roupas, do tapete e da janela à esquerda, de onde se vislumbra o mundo exterior. Jan van Eyck imprime assim uma qualidade quase tangível aos seus materiais- pele, veludo, seda, toucado de linho, pelagem do cão.

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