O casal se apresenta de pé, em sua alcova; o esposo bendiz a sua mulher, que lhe oferece sua mão direita, enquanto apoia a esquerda em seu ventre. A pose das personagens resulta uma aparência teatral e cerimoniosa, praticamente hierática; alguns especialistas vêem nessas atitudes fleumáticas certa comicidade, ainda que a referida interpretação que se vê no retrato, a representação de um casamento, atribui a isso alguma pompa.
O espelho convexo, emoldurado por pequenos medalhões que ilustram cenas da paixão, reflecte as duas figuras principais de costas e duas figuras masculinas mais pequenas de frente - uma forma engenhosa de transpor para a pintura a visão da sala pelo espectador, e a imagem do próprio artista.
A composição obedece a um esquema simétrico, em que o eixo central é sublinhado pelo candelabro, pelo espelho, pelas mãos enlaçadas do casal e pelo cão em primeiro plano. A profundidade espacial resulta não tanto das linhas de fuga, como também, da forma como figuras e objectos se sobrepõem. Esta obra, é considerada muito inovadora para a época em que foi concebida, exibe diversos conceitos novos relativamente às perspectivas e à acentuação dos segundos planos.
De modo surpreendente, aos rostos das duas figuras, trajadas ao estilo contemporâneo, falta individualidade associada à arte do retrato. Em contraste, pormenores mais insignificantes dimanam uma forte "personalidade": o candelabro tremeluzente em que arde apenas uma vela nupcial, por exemplo, para além do espelho, das roupas, do tapete e da janela à esquerda, de onde se vislumbra o mundo exterior. Jan van Eyck imprime assim uma qualidade quase tangível aos seus materiais- pele, veludo, seda, toucado de linho, pelagem do cão.
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